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"O Mapa Cultural", de Erin Meyer - Parte 1

  • Foto do escritor: Ayumi Costa
    Ayumi Costa
  • 17 de fev.
  • 6 min de leitura

Temaki frito: uma blasfêmia, ou apenas uma coxinha de sushi? Enfim, há muito de interessante para além das distinções culturais. 画像: Minha Receita
Temaki frito: uma blasfêmia, ou apenas uma coxinha de sushi? Enfim, há muito de interessante para além das distinções culturais. 画像: Minha Receita

皆さんこんにちは、こんばんは。


No mundo atual, cada vez mais interconectado, estamos constantemente trabalhando, estudando e interagindo com pessoas de diferentes origens culturais. Essa diversidade traz oportunidades valiosas de colaboração e aprendizado, mas também pode gerar desafios de comunicação e entendimento. Sem uma consciência clara das diferenças culturais, pequenos mal-entendidos podem se transformar em obstáculos significativos.


A professora da INSEAD Business School, Erin Meyer, explora essas diferenças em seu livro O Mapa Cultural, oferecendo uma estrutura prática para navegar por diferentes estilos de comunicação, hierarquia, feedback e tomada de decisão. Ao compreender essas dimensões, podemos melhorar a colaboração intercultural e evitar conflitos desnecessários.


Este artigo aborda quatro dimensões-chave do livro: comunicação, avaliação, persuasão e liderança. Cada seção destaca os principais conceitos e estratégias para interações mais eficazes em ambientes multiculturais.


Comunicação: Culturas de Alto e Baixo Contexto


A forma como as culturas transmitem informações pode ser classificada com base na quantidade de contexto necessário para compreender a mensagem. Algumas culturas preferem mensagens mais explícitas e diretas, enquanto outras esperam que o interlocutor deduza significados implícitos com base em pistas não ditas e conhecimento compartilhado.


Em culturas de baixo contexto, como os Estados Unidos, a comunicação é clara, direta e transparente. A repetição e o resumo de informações garantem que todos compreendam a mensagem, pois não se pressupõe que os ouvintes compartilhem conhecimentos prévios. Esse estilo valoriza a objetividade e a precisão, o que explica porque os americanos frequentemente insistem em registros escritos e follow-ups detalhados.


Já em culturas de alto contexto, como o Japão, a comunicação é indireta e depende de elementos não verbais e do conhecimento prévio entre os interlocutores. A harmonia do grupo é priorizada, e declarações diretas podem ser evitadas para não gerar constrangimentos ou conflitos. No ambiente profissional, a expectativa é que as instruções não precisem ser detalhadas, pois os colaboradores devem entender implicitamente o que se espera deles.


O português brasileiro se posiciona entre esses dois extremos, tendendo mais para o alto contexto. O próprio idioma reflete essa característica: a palavra subentendido ilustra como os brasileiros frequentemente confiam na interpretação implícita de uma mensagem em vez de expressar tudo explicitamente.


Como Reduzir Barreiras de Comunicação


Para se comunicar com pessoas de culturas de alto contexto, fazer perguntas abertas pode ajudar a esclarecer informações não ditas. Como essas culturas tendem a evitar dizer “não” diretamente, é útil reformular questões para obter respostas mais precisas. Por exemplo, em vez de perguntar “Você entendeu?”, uma abordagem mais eficaz seria “Quais seriam os próximos passos para concluir essa tarefa?”.


Por outro lado, ao lidar com pessoas de culturas de baixo contexto, é essencial ser o mais explícito possível. Recapitular os pontos-chave ao final da conversa e evitar suposições garantem que todos estejam alinhados. Além disso, aqueles que vêm de culturas de alto contexto devem se esforçar para expressar suas mensagens de forma mais clara e direta.

Em equipes multiculturais, os mal-entendidos são mais frequentes entre pessoas de culturas de alto contexto que não compartilham os mesmos pressupostos. Um brasileiro e um chinês, por exemplo, podem adotar uma comunicação indireta, mas com expectativas diferentes sobre o que deve ser subentendido. Para minimizar ruídos, é útil estabelecer processos formais e diretrizes claras para comunicação.


Avaliação: Feedback Direto vs. Indireto


O modo como diferentes culturas fornecem feedback nem sempre corresponde ao seu estilo geral de comunicação. Algumas culturas que normalmente são indiretas podem ser surpreendentemente francas ao criticar, enquanto outras suavizam o tom ao apontar erros.

Nos Estados Unidos e no Reino Unido, o feedback negativo tende a ser indireto. Para minimizar o impacto, muitas empresas seguem a “técnica do sanduíche”, na qual um comentário crítico é inserido entre dois elogios. Além disso, americanos costumam usar suavizadores linguísticos, como “um pequeno problema” ou “um pouco difícil”, para tornar as críticas mais aceitáveis.


Já na Alemanha e na Holanda, o feedback é direto e objetivo. Críticas são vistas como parte do aprimoramento profissional e não há a necessidade de adoçar as palavras. No entanto, essa franqueza pode parecer rude para aqueles acostumados a uma abordagem mais diplomática.


Em culturas de alto contexto, como Brasil e Japão, o feedback negativo raramente é dado em público e tende a ser mais sutil. No Japão e em outras culturas orientais, por exemplo, é comum que a crítica seja transmitida de maneira implícita, sem mencionar diretamente os pontos negativos. Um gestor pode, por exemplo, elogiar apenas parte de um relatório, sugerindo que os outros pontos precisam de melhorias. Uma exceção para isso ocorre às vezes quando envolvemos autoridade: se a cultura tem um estilo de feedback indireto mas é muito hierárquica, pode ser aceitável que pessoas em uma posição mais alta na hierarquia critiquem quem está embaixo de forma bastante direta e severa.


Como Adaptar o Feedback a Diferentes Culturas


Em culturas indiretas, é importante ler nas entrelinhas e perceber nuances na comunicação. Para fornecer críticas construtivas, pode-se suavizar a mensagem ou escolher um ambiente privado para discutir melhorias. Em contraste, ao lidar com pessoas de culturas diretas, ser claro e objetivo é mais eficaz.


Persuasão: Culturas Baseadas em Princípios vs. Aplicações


Os estilos de argumentação variam de acordo com a cultura. Algumas priorizam a explicação teórica antes de apresentar soluções práticas, enquanto outras preferem focar diretamente na ação.


Nas culturas baseadas em princípios, como França e Alemanha, a construção de um raciocínio começa com uma base conceitual antes de chegar à aplicação prática. A lógica segue um pensamento dedutivo, onde a teoria embasa a tomada de decisão.

Já nas culturas baseadas em aplicações, como Estados Unidos e Canadá, o foco está na praticidade. O argumento é estruturado de forma indutiva, começando com exemplos concretos antes de generalizar princípios.


Os países asiáticos, por sua vez, adotam um pensamento holístico, considerando o contexto mais amplo antes de chegar a uma conclusão específica. Meyer ilustra isso com um estudo em que americanos e japoneses tiveram que descrever imagens: ao fazê-lo, americanos focaram no objeto principal, enquanto japoneses mencionaram o fundo e os detalhes ao redor, demonstrando sua abordagem mais abrangente.


Como Ajustar Estratégias de Persuasão


Para convencer públicos de culturas baseadas em princípios, é importante construir uma argumentação sólida antes de apresentar soluções. Já para culturas orientadas à aplicação, ir direto ao ponto e destacar os impactos práticos tende a ser mais eficaz.


Liderança: Culturas Hierárquicas vs. Igualitárias


As expectativas de liderança também são moldadas pela cultura. Em culturas igualitárias, como Dinamarca e Holanda, os líderes são vistos como iguais e espera-se que sejam acessíveis. Os funcionários são incentivados a desafiar a autoridade e tomar decisões de forma independente. Já em culturas hierárquicas, como China e Brasil, espera-se que os líderes forneçam direções claras, e os funcionários demonstram deferência à autoridade.


Curiosamente, Erin afirma que, se você perguntar às pessoas ao redor do mundo, elas dirão que preferem uma liderança igualitária, mas isso nem sempre se prova tão exato assim. Um estilo verdadeiramente igualitário gera em uma cultura onde um bom líder é alguém que se apresenta como "apenas um de nós", alguém que permite que o grupo questione e conteste suas decisões, que possibilita que os outros cheguem às suas próprias conclusões e ajam com um alto grau de autonomia. Por outro lado, em um contexto hierárquico, as pessoas podem evitar discordar abertamente de seu chefe, seguir rigidamente a cadeia hierárquica nas comunicações, ser posicionadas de acordo com sua posição em um evento e pedir permissão antes de avançar com a maioria das ações.


Liderança em Ambientes Multiculturais


Compreender essas expectativas é crucial para uma liderança eficaz em contextos internacionais. Por exemplo, uma equipe hierárquica pode ter dificuldades com um líder excessivamente informal, enquanto uma equipe igualitária pode esperar mais autonomia do que um líder hierárquico está confortável em conceder.


Erin diz que a maioria dos seres humanos é flexível e que, quando as expectativas são claramente comunicadas, a maioria dos mal-entendidos pode ser resolvida. O problema só persiste quando cada parte insiste que a outra está errada.


***


Como este livro é bastante longo e ainda há outras quatro dimensões para abordar, vou dividir este conteúdo em uma série de duas partes. Provavelmente vou intercalar essas postagens com outros tópicos que também pretendo abordar, mas me avisem nos comentários se quiserem que eu cubra o restante logo em seguida! Recomendo muito este livro, pois foi uma leitura bastante curiosa e acredito que qualquer pessoa que tenha tido experiências com outras culturas poderá achar o conteúdo muito interessante.


Referência:

MEYER, E. The Culture Map: Breaking Through the Invisible Boundaries of Global Business. Nova York: PublicAffairs, 2016.


 
 
 

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