Hikikomori: os Eremitas do Nosso Tempo
- Ayumi Costa
- 24 de fev.
- 5 min de leitura

皆さんこんにちは、こんばんは。
O termo Hikikomori (引きこもり) é definido por Nonaka et al. (2025) como um padrão de afastamento social prolongado ou isolamento marcado. Embora seja um conceito formalmente estudado, a palavra também é usada coloquialmente para se referir às pessoas que vivem nessa condição. Ainda que não haja consenso absoluto sobre os critérios que o caracterizam, alguns sinais frequentemente mencionados incluem a ausência de participação em atividades escolares ou profissionais, a falta de socialização fora do ambiente doméstico e a permanência quase exclusiva dentro de casa por um período superior a seis meses. Dados de 2023 indicam que cerca de 2% da população japonesa se encontra nessa situação.
Embora o fenômeno não seja exclusivo do Japão, é no país que ele tem sido mais estudado, gerando uma vasta literatura em japonês. No entanto, pesquisas sobre o tema também vêm sendo realizadas em países como Austrália, França, Índia, Coreia do Sul e Estados Unidos. A revisão sistemática e meta-análise conduzida por Nonaka et al. destaca a existência de resultados contraditórios entre os estudos, evidenciando a falta de consenso sobre os impactos do Hikikomori na qualidade de vida dos indivíduos e de seus familiares.
Como vivem as pessoas em Hikikomori e suas famílias?
As pesquisas indicam que indivíduos em Hikikomori apresentam maior prevalência de diagnósticos psiquiátricos em comparação a grupos que não vivem essa condição, além de enfrentarem dificuldades interpessoais mais acentuadas. Observa-se ainda uma predominância masculina, o que pode estar relacionado ao fato de que muitos desses indivíduos também apresentam sintomas de Transtorno do Espectro Autista (TEA), uma condição diagnosticada com uma frequência quatro vezes maior em homens.
Nonaka et al. (2020) também apontam que pessoas em Hikikomori experimentam uma pior qualidade de vida e, em casos de isolamento prolongado, a saúde física pode ser comprometida. Indivíduos que permanecem nessa condição por mais de 15 anos, por exemplo, tendem a apresentar problemas físicos relacionados ao sedentarismo extremo. Além disso, a carga emocional e prática do Hikikomori recai frequentemente sobre os familiares, que, na maioria das vezes, são os primeiros a buscar ajuda. Apenas 7% dos indivíduos em Hikikomori procuram apoio por conta própria, o que reforça a importância de estratégias terapêuticas que incluam a família no processo de intervenção.
Apesar de muitos estudos investigarem o papel da dinâmica familiar, ainda não há evidências sólidas de que estilos parentais específicos estejam diretamente relacionados ao desenvolvimento do Hikikomori. Entretanto, pesquisas sugerem que a qualidade das interações familiares pode influenciar significativamente o processo de reabilitação. Famílias que demonstram maior repertório de interação social tendem a ter membros em Hikikomori com mais habilidades sociais, desde que haja uma compreensão clara sobre como suas atitudes impactam a pessoa isolada. No entanto, como apontam Nonaka et al., muitos desses estudos são baseados em questionários de autoavaliação, o que exige cautela na interpretação dos resultados e demanda investigações adicionais.
Tratamentos possíveis
As abordagens terapêuticas para o Hikikomori costumam ter dois focos principais: o primeiro é o suporte à própria família e o segundo é a ampliação do repertório comportamental da pessoa em isolamento. As terapias cognitivo-comportamentais são amplamente utilizadas, pois oferecem flexibilidade para trabalhar os fatores que reforçam os comportamentos de isolamento, ao invés de comparar a dinâmica familiar com um modelo idealizado.
Kuroki et al. (2020) desenvolveram um treinamento semanal de cinco sessões baseado em reforço comunitário e treinamento familiar, além de ensinar técnicas de primeiros socorros psicológicos. Os participantes aprenderam estratégias como reforçar comportamentos desejados, ouvir sem julgamento, pedir ajuda para motivar cooperação e incentivar a busca por tratamento. Embora os efeitos do treinamento tenham sido modestos, ao final do estudo, dois dos dezoito participantes relataram que seus filhos haviam deixado o isolamento.
Outra abordagem explorada foi o apoio emocional remoto via e-mail e mensagens. Um estudo de caso descreve uma adolescente que havia abandonado a escola (futoko, 不登校), e cujo caso também foi tratado como Hikikomori. Embora o artigo tenha algumas decisões com as quais não concordei muito, a possibilidade de atendimento online por mensagens surge como uma alternativa viável para esse público.
Outro estudo investigou uma mãe que enfrentava grandes dificuldades para sair de casa com sua filha. Após 22 sessões de Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT), observou-se uma melhora significativa na sua capacidade de locomoção. Apesar dos bons resultados, o caso não é diretamente comparável ao Hikikomori associado a dificuldades interpessoais ou adaptação ao ambiente de trabalho.
Conclusão
O estigma em torno do Hikikomori frequentemente leva à crença de que essas pessoas são apenas preguiçosas ou mimadas. No entanto, além de ser uma visão equivocada, essa perspectiva não contribui para soluções efetivas. Pesquisas mostram que indivíduos em Hikikomori apresentam índices elevados de transtornos mentais, com até 80% deles recebendo diagnósticos psiquiátricos ao buscar atendimento. Além disso, a qualidade de vida dessas pessoas é consideravelmente inferior à de indivíduos que não vivem essa condição.
A duração média do isolamento para quem se enquadra nesse perfil é de 9,6 anos, o que sugere que o Hikikomori pode representar uma fase da vida, e não uma sentença definitiva. Pesquisadores seguem investigando novas abordagens para lidar com essa questão, e iniciativas inovadoras também têm surgido fora do meio acadêmico, como empresas que oferecem "irmãs de aluguel" – profissionais que buscam estabelecer vínculos e motivar indivíduos em isolamento a saírem de seus quartos.
A Terapia de Aceitação e Compromisso, por seu enfoque em exposição gradual, parece promissora para esse tipo de caso, e espero que estudos futuros tragam mais evidências sobre sua eficácia na reabilitação de pessoas em Hikikomori.
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Referências
Kubo, H., Urata, H., Sakai, M., Nonaka, S., Saito, K., Tateno, M., Kobara, K., Hashimoto, N., Fujisawa, D., Suzuki, Y., Otsuka, K., Kamimae, H., Muto, Y., Usami, T., Honda, Y., Kishimoto, J., Kuroki, T., Kanba, S., & Kato, T. A. (2020). Development of 5-day hikikomori intervention program for family members: A single-arm pilot trial. Heliyon, 6(1), e03011. https://doi.org/10.1016/j.heliyon.2019.e03011
真史 秋坂, めぐみ 渡辺, & 美幸 志井田. (2006). 携帯メール・カウンセリングによる引きこもり・不登校生徒に対する臨床心理学的研究. 教育医学, 51(4), 291–299. https://doi.org/10.32311/jsehs.51.4_291
Nonaka, S., Kubo, H., Takeda, T., & Sakai, M. (2025). Functioning, disability, and health of individuals with Hikikomori (prolonged social withdrawal) and their families: A systematic review and meta-analysis of case-control studies. International Journal of Social Psychiatry. https://doi.org/10.1177/00207640241310189
Nonaka, S., Shimada, H., & Sakai, M. (2020). Family Behavioral Repertoires and Family Interaction Influence the Adaptive Behaviors of Individuals With Hikikomori. Frontiers in Psychiatry, 10. https://doi.org/10.3389/fpsyt.2019.00977
Nonaka, S., Shimada, H. and Sakai, M. (2019). Characteristics of Family Interaction of Individuals with Hikikomori (Prolonged Social Withdrawal) From the Viewpoint of Behavior Theory. Jpn Psychol Res, 61: 153-165. https://doi.org/10.1111/jpr.12219
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瀬口篤史. (2020). 外出が困難となった女性に対する アクセプタンス & コミットメント・セラピー(ACT)による 介入と行動指標の活用 [Review of 外出が困難となった女性に対する アクセプタンス & コミットメント・セラピー(ACT)による 介入と行動指標の活用]. 認知行動療法研究, 46(1), 25–36.
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